Saiba quais as facções que dominam os cartões postais de Salvador
Recentemente, a orla da Barra amanheceu com pichações entre uma balaustrada e uma escadaria. A prática não é novidade, mas o que é assustador é a audácia do Terceiro Comando Puro estampar suas iniciais (TCP) nas imediações do Farol da Barra, um dos cartões postais de Salvador, onde milhares de turistas caminham todos os dias. Mas o farol não é o único cartão postal em que os visitantes dividem o espaço com as organizações criminosas. Porto da Barra, Dique do Tororó, Igreja Bonfim, Humaitá, Lagoa do Abaeté, Elevador Lacerda e o Pelourinho sofrem do mesmo problema.Para a professora de Direito Penal e Processual e de Movimentos Sociais da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Márcia Margarida Martins, a presença de infraestrutura inadequada em áreas turísticas permite que criminosos se estabeleçam e operem, aumentando a violência. “Podemos afirmar com categórica certeza que a presença de facções como o Comando Vermelho (CV) e o Bonde do Maluco (BDM) em áreas turísticas de Salvador afeta diretamente, concretamente toda a percepção de insegurança: isso pode ser dito com certeza, face as constantes notícias sobre tiroteios, tráfico e violência nessas regiões, que certamente afetam o turismo com o afastamento dos turistas, especialmente estrangeiros, que costumam pesquisar índices de segurança antes de viajar”, declara.
No último dia 5, as iniciais do TCP, uma das maiores organizações criminosas do país, estavam espalhadas na área que fica perto do Barravento, já nas proximidades da Avenida Oceânica. No entanto, nesta terça-feira (12), o CORREIO voltou ao local e encontrou as inscrições estavam cobertas. Mas, segundo quem passa pelo local, a medida não apaga a sensação de insegurança. É preciso mais do que isso. “Não adianta nada pôr tinta aí, se não há um comprometimento em combater de fato o crime organizado aqui ou em qualquer lugar da Bahia. A sensação é de que perdemos essa guerra para eles (criminosos)”, diz o funcionário público João Paulo Feitosa, morador da Barra.
Próximo ao Barravento está o Cristo Nosso Senhor, conhecido como o “Cristo da Barra”. Em frente ao monumento, a comunidade da Roça da Sabina, controlado pelo BDM, o que explicaria as pichações do TCP, pois as duas são parceiras para derrotar a arquirrival CV, presente no Porto da Barra – difícil encontrar um baiano que nunca tenha ido dar um mergulho, seja anônimo ou famoso, na praia mais eclética de Salvador e que já foi considerada uma das melhores do mundo. “O que a gente houve é que por aqui não fica ninguém de ‘três letras’. Se aparecer, é morte na certa. Aqui é ‘tudo dois’”, diz um ambulante, fazendo referência à presença da facção carioca.
Quem assiste ao remake de Vale Tudo (Rede Globo), pode notar que, entre os mais de 150 fremes que mostram a diversidade do país, está a imagem do Diquei do Tororó, com as esculturas de orixás. Porém, o cartão postal exibido na novela durante o horário nobre é outro ponto turístico de Salvador sob o controle do tráfico. As iniciais indicam que ali o território é o do BDM. Isso porque seu entorno é composto por regiões comandadas pela facção, como Engenho Velho de Brotas e o Centro. “Eu me sinto ameaçada”, dispara a autônoma Mari Fortes, após dar de cara, durante a caminhada, com uma das pichações da facção em uma parede de cimento em um dos trechos da lagoa
