A Igreja realmente ainda precisa de padres?
Muda, dentro da religião católica, nesta época denominada de pós-cristianismo, a figura do padre, o seu modo de entendê-lo, a sua função na comunidade. (Reprodução/ Today's Catholic)
Por Paolo Cugini*
Todo contexto cultural produz seus protagonistas em todos os níveis da sociedade civil. Houve a época das “contradas” e a época dos artesãos. Houve um tempo em que o mundo romano estava dividido entre patrícios e plebeus. E, enquanto o Ocidente inventava a imprensa, nas culturas andinas da América Latina a civilização desenvolvia uma cosmogonia em que homem, mulher, animais e plantas estavam em perfeita harmonia.
Hoje, no entanto, dominam os supermercados, porque respondem melhor às exigências do novo modelo globalizado de sociedade e de economia. Não por acaso, encontramos os supermercados em todos os cantos do planeta.
Em todas as latitudes do planeta e em todas as épocas, encontramos formas de religiosidade com os seus templos e os seus sacerdotes. Existem dados antropológicos universais, como a religião e modos contextualizados de vivê-los. Na história das religiões, os atores que giram em torno do sagrado não são apenas homens, mas também mulheres. Mudam as condições sociais, mudam, ao mesmo tempo, os atores do sagrado.
A Igreja também é uma instituição humana que responde a lógicas do mundo e, consequentemente, também ela está sujeita a mudanças ao longo dos séculos. Mudou tanto a ritualidade através da qual expressa o evento original, quanto a tipologia daqueles que são aptos aos ritos religiosos.
Certamente, a Igreja tem um mandato divino e se alimenta de Deus, mas o modo de geri-la utiliza critérios humanos. Como todas as instituições que duram no tempo, a Igreja também se esforça para se adaptar às mudanças necessárias. A passagem do tempo provoca assentamentos estruturais que são identificados como identitários e, consequentemente, imodificáveis.
Tudo isso ocorre quando uma tradição cultural ou religiosa perde contato com a sua origem, ou quando, entre a origem e o presente da história, interpõem-se tradições de proveniência externa, que modificam a identidade da própria estrutura.
A falta de um grupo de sábios, que mantêm contato com a origem, e que pode alertar a base de um movimento político ou religioso sobre as distorções em curso, provoca lenta e progressivamente a base identitária do grupo.
E, assim, pode acontecer e de fato acontece que uma religião ou um grupo político, com o tempo, se transforme, afastando-se da sua origem, a ponto de ser quase irreconhecível. As mutações dentro de uma estrutura social, religiosa e política são inevitáveis, e, por isso, é preciso ser capaz de acompanhar as mudanças para não correr o perigo de destruir o conteúdo original.
Nessa perspectiva, também muda, dentro da religião católica, nesta época denominada de pós-cristianismo, a figura do padre, o seu modo de entendê-lo, a sua função na comunidade.
Essa mudança está na regra das coisas da sociedade civil. São as mudanças culturais que ditam as indicações para as mudanças de todas as estruturas que fazem parte dela e que não querem perder o seu lugar. Nas épocas denominadas de passagem, como a que estamos vivendo, o perigo consiste em não o captar e em não conseguir intuir as mudanças necessárias para permitir que a própria estrutura permaneça dentro. O que, então, deveria mudar na modalidade do padre católico de exercer o seu ministério? Ainda mais, é possível se perguntar: é realmente necessária essa figura no novo quadro cultural e social que está se configurando?
Se é verdade, como nos ensinam os documentos da Igreja e uma longa tradição que deriva dos Padres da Igreja, que é a Eucaristia que faz a Igreja, então é preciso capacitar as comunidades cristãs de se nutrirem dela. No atual contexto cultural, está em curso, há algumas décadas, uma progressiva e irrefreável diminuição do clero, isto é, daqueles chamados a presidir as comunidades para celebrar a Eucaristia.