Quando a eucaristia não tem sabor
No seio da comunidade, os fiéis são chamados a nutrirem sua vida espiritual, para que a semana frutifique com os frutos da graça sacramental experimentada. (Divulgação)
É bastante comum encontrar, circulando pela internet, uma imagem de altar com o dizer, de duplo sentido: “domingo sem missa, semana sem graça”. Dos dois sentidos, um não tem fundo teológico: sem a participação na celebração dominical, a semana fica vazia, sem sentido. O segundo sentido nos remete a um entendimento com uma pretensa compreensão teológica: fora do cumprimento do preceito dominical, não há recebimento da graça de Deus. Pensemos a respeito desse segundo sentido.
Em primeiro lugar, é preciso considerar o fato de que, ainda que a Igreja normatize a participação dominical na celebração, a necessidade de participação no rito litúrgico, por parte dos fiéis, não é critério de recebimento da graça. Isto é: a graça divina, como o próprio nome diz, não necessita de mérito humano – no caso, a participação no rito litúrgico – para ser dada aos fiéis. Ela é dom, o próprio amor de Deus que se derrama sobre todos e todas que estão abertos a ela. Aqui, vale ressaltar: mesmo que o mérito humano – se é que em alguma ocasião haja algum – não importe para o recebimento da graça, a participação humana, em sua abertura, faz-se necessária.
Em segundo lugar – como desdobramento da consideração anterior –, a importância da participação na celebração litúrgica, para a experiência sacramental da graça de Deus, está em nossa dimensão linguístico-simbólica: a graça divina desdobra-se sobre o mundo e nós, seres de linguagem, precisamos dos símbolos para apreendê-la, no nível da experiência. A definição clássica de “sacramento” talvez nos ajude a compreender o significado disso: sacramento é a graça invisível, manifestada no sinal visível (pelos sentidos). Na celebração litúrgica, portanto, os fiéis podem fazer experiência, por meio dos sinais sacramentais, da graça divina que é dispensada ao mundo. Ou, ainda: é possível que cumpram o preceito, a norma pela norma, e não façam experiência sacramental, graça, nenhuma.
Conclui-se, portanto, que fora da participação semanal no preceito dominical também se pode fazer experiência da graça, pois o critério não é a participação no sacramento, mas a abertura para sua atuação em nós. O contrário disso também precisa ser considerado: não é pelo fato de o fiel ter estado na celebração que tenha feito experiência de graça. Descortina-se aqui, então, a terceira e última consideração: a participação na celebração dominical precisa ser independente da normatização existente a esse respeito. Ela implica uma dimensão ética, na qual a convivência fraterna no seio da comunidade faz viva a presença de Jesus e de seu mistério que salva. Fora disso, a eucaristia não tem sabor.
No seio da comunidade, os fiéis são chamados a nutrirem sua vida espiritual, para que a semana frutifique com os frutos da graça sacramental experimentada. Então, a participação sacramental na celebração comunitária pode encher de graça (nos dois sentidos) a semana, quando a dimensão ética não é esquecida e quando a participação não se dá pelo fato de a única motivação ser o cumprimento de um preceito. Quando, porém, os fiéis não estão dispostos a fazer verdadeira comunhão com os irmãos e irmãs, mais sensato é que se ausentem da celebração, mesmo que em descumprimento do preceito, pois de qual graça estariam participando, afinal? É preciso dar sabor à eucaristia, pois alimento insosso não tem graça!

No seio da comunidade, os fiéis são chamados a nutrirem sua vida espiritual, para que a semana frutifique com os frutos da graça sacramental experimentada. (Divulgação)
É bastante comum encontrar, circulando pela internet, uma imagem de altar com o dizer, de duplo sentido: “domingo sem missa, semana sem graça”. Dos dois sentidos, um não tem fundo teológico: sem a participação na celebração dominical, a semana fica vazia, sem sentido. O segundo sentido nos remete a um entendimento com uma pretensa compreensão teológica: fora do cumprimento do preceito dominical, não há recebimento da graça de Deus. Pensemos a respeito desse segundo sentido.
Em primeiro lugar, é preciso considerar o fato de que, ainda que a Igreja normatize a participação dominical na celebração, a necessidade de participação no rito litúrgico, por parte dos fiéis, não é critério de recebimento da graça. Isto é: a graça divina, como o próprio nome diz, não necessita de mérito humano – no caso, a participação no rito litúrgico – para ser dada aos fiéis. Ela é dom, o próprio amor de Deus que se derrama sobre todos e todas que estão abertos a ela. Aqui, vale ressaltar: mesmo que o mérito humano – se é que em alguma ocasião haja algum – não importe para o recebimento da graça, a participação humana, em sua abertura, faz-se necessária.
Em segundo lugar – como desdobramento da consideração anterior –, a importância da participação na celebração litúrgica, para a experiência sacramental da graça de Deus, está em nossa dimensão linguístico-simbólica: a graça divina desdobra-se sobre o mundo e nós, seres de linguagem, precisamos dos símbolos para apreendê-la, no nível da experiência. A definição clássica de “sacramento” talvez nos ajude a compreender o significado disso: sacramento é a graça invisível, manifestada no sinal visível (pelos sentidos). Na celebração litúrgica, portanto, os fiéis podem fazer experiência, por meio dos sinais sacramentais, da graça divina que é dispensada ao mundo. Ou, ainda: é possível que cumpram o preceito, a norma pela norma, e não façam experiência sacramental, graça, nenhuma.
Conclui-se, portanto, que fora da participação semanal no preceito dominical também se pode fazer experiência da graça, pois o critério não é a participação no sacramento, mas a abertura para sua atuação em nós. O contrário disso também precisa ser considerado: não é pelo fato de o fiel ter estado na celebração que tenha feito experiência de graça. Descortina-se aqui, então, a terceira e última consideração: a participação na celebração dominical precisa ser independente da normatização existente a esse respeito. Ela implica uma dimensão ética, na qual a convivência fraterna no seio da comunidade faz viva a presença de Jesus e de seu mistério que salva. Fora disso, a eucaristia não tem sabor.
No seio da comunidade, os fiéis são chamados a nutrirem sua vida espiritual, para que a semana frutifique com os frutos da graça sacramental experimentada. Então, a participação sacramental na celebração comunitária pode encher de graça (nos dois sentidos) a semana, quando a dimensão ética não é esquecida e quando a participação não se dá pelo fato de a única motivação ser o cumprimento de um preceito. Quando, porém, os fiéis não estão dispostos a fazer verdadeira comunhão com os irmãos e irmãs, mais sensato é que se ausentem da celebração, mesmo que em descumprimento do preceito, pois de qual graça estariam participando, afinal? É preciso dar sabor à eucaristia, pois alimento insosso não tem graça!