Petralhas a todo vapor pentarréu
A eleição da senadora Gleisi Hoffmann (PR) para a presidência do PT só corrobora o fato de que a direção tomada pelo partido é uma só: a do precipício. O partido escolheu, por eleição indireta, uma presidente denunciada no Supremo Tribunal Federal (STF) por receber dinheiro de propina para financiar suas campanhas eleitorais. Com isso, o partido segue na contramão de algumas (poucas) tendências do partido, como as capitaneadas por petistas históricos como Olívio Dutra e Tarso Genro, ávidos por uma reflexão profunda sobre os malfeitos da legenda nos últimos anos. Gleisi, pelo contrário, parece não enxergar problemas na maneira como o PT foi conduzido nos últimos tempos. À platéia, apinhada de processados, imprimiu novas cores à narrativa. Agora, não descarta que o partido tenha incorrido em atos ilícitos. “O dinheiro desviado só não estava destinado a enriquecer” a companheirada – argumento que, sabe-se, também não guarda relação com os fatos.
A petista teve escola. Gleisi não teria alcançado o posto máximo da legenda sem a prestimosa contribuição do famoso padrinho. Foi eleita com a bênção do ex-presidente Lula, o que mostra que ele continua sendo o grande coronel do partido, embora pentarréu e prestes a ser condenado em primeira instância. A atuação do ex-presidente no pleito interno do PT contraria inclusive seu próprio depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, no qual disse não possuir influência nas decisões da legenda desde quando assumiu a Presidência da República em 2002 ao ser questionado se ele tinha conhecimento da corrupção na Petrobras perpetrada por seu partido.
“O PT não é organização religiosa e, por isso, não faz profissão de culpa, nem tampouco nos açoitaremos” Gleisi Hoffmann, presidente do PT
Outra demonstração de que a velha-guarda ainda continua viva entre as galerias da legenda – e pronta para atacar de novo os cofres do país – foi o “carinho” demonstrado a um dos políticos mais implicados nos últimos escândalos de corrupção: José Dirceu. Durante a abertura do 4ª Congresso Nacional do PT, na sexta-feira 2, em Brasília, o nome dele foi recebido com o tradicional canto de guerra: “Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro”.
A platéia qualificada com militantes graduados no mundo do crime contou ainda com a presença do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. Delúbio foi condenado por lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato a uma pena de cinco anos de prisão em regime fechado. Delúbio é acusado de participar de uma operação de empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões concedido ao pecuarista Jose Carlos Bumlai e que teve como destino real o PT. De chapéu branco, ele entabulava conversas descontraídas, sem qualquer sensação de culpa.
Por fim, a opção pela senadora Gleisi em detrimento de petistas dispostos a puxar o PT para outro rumo, o do mea culpa, revelou também uma característica da cúpula que agora será liderada por ela pelos próximos dois anos: a de descartar como sapato velho companheiros que estão mais implicados com a Justiça, como é o caso dos ex-ministros Guido Mantega e Antônio Palocci. Este último preso em Curitiba. Os dois são assuntos proibidos no partido. Eles estão prestes a assinar acordo de colaboração premiada com a força-tarefa da Lava Jato.
No seu primeiro discurso já como presidente eleita do PT, no sábado 3, Gleisi mandou um recado aos militantes e fez um gesto de que dará continuidade à forma de se fazer política dentro da legenda. Ou seja, a senadora vai passar uma borracha no passado de sujeira e não reconhecerá os erros, como a institucionalização da corrupção nos governos de Lula e Dilma.

