Juízes deixam de aplicar leis contra corrupção por medo de ficar sem promoção, diz Joaquim Barbosa

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Joaquim Barbosa, disse hoje (30) que parte dos juízes brasileiros não
aplica devidamente as leis de combate à corrupção devido a relações políticas
com aqueles que poderão influenciar sua promoção na carreira.
“Não há mecanismos que criem automatismos,
permitindo que o juiz, passado determinado tempo, seja promovido sem ter que
sair por aí, com um pires na mão, para conseguir essa promoção. Por isso é que
digo: 'deixe o juiz em paz, permita que ele evolua na sua carreira, de maneira
natural, sem que políticos tenham que se intrometer.' Essa é uma das razões pelas
quais muitos juízes não decidem [em ações de combate à corrupção]. Vamos atacar
o problema na sua raiz”, defendeu o ministro.
Barbosa destacou que o Brasil tem leis de combate à
corrupção, que não são perfeitas, mas não estão sendo aplicadas. “Eu acredito
firmemente que, quando o juiz quer, ele decide. Ele aplica. Só não aplica a lei
aquele juiz que é medroso, é comprometido, ou é politicamente engajado em
alguma causa, e isso o distrai, o impede moralmente de se dedicar a sua
missão”, disse Barbosa, ao falar sobre produtividade, em encontro promovido
pela revista Exame.
O magistrado ressaltou, porém, que parte dos juízes
consegue agir independentemente de influências políticas. “Desconfie de juiz
que vive travando relações políticas aqui e ali", recomendou Barbosa. Para
ele, ninguém quer ter aspectos importantes de sua vida nas mãos de juízes com
tal característica. "Infelizmente, nosso sistema permite que esse tipo de
influência negativa seja exercida sobre determinado juiz, mas é claro que há juízes
que conseguem driblar isso muito bem.”
O ministro voltou a criticar o sistema político
brasileiro, que permite a existência de muitos partidos. "Isso é péssimo,
isso não é bom para a estabilidade do sistema político brasileiro. Nenhum
sistema político funciona bem com dez, 12, 15, muito menos com 30 partidos. [É
necessário] algo que existe em outros países, que é a cláusula de barreira.
Este é o caminho, o da representatividade, só sobrevivem aqueles partidos que
continuam a ter representatividade no Congresso", afirmou.
Bruno Bochi
Bruno Bochi